segunda-feira, 21 de julho de 2008

O copo meio cheio e o meio vazio

SPFC 2x1 Botafogo
20.jul.2008, 18h10
Brasileirão 2008
Público pagante: 17.589


Ganhamos. E, é claro, num campeonato de pontos corridos, essa é a única coisa que realmente importa. Mas não merecemos a vitória e nos vimos acuados pela horrorosa equipe do Botafogo, em pleno Morumbi.

Por que isso aconteceu? Na minha modesta opinião, Muricy escalou errado. O time entrou com Rogério Ceni, Éder, Alex Silva, André Dias e Alex Cazumba; Zé Luís, Jorge Wagner, Hernanes e Hugo; Dagoberto e Éder Luis. Um 4-4-2, sem referência de ataque, com dois velocistas abrindo pelos lados do campo no setor ofensivo.

Nada contra jogar sem centroavante -- o São Paulo glorioso de 1992 e 1993 jogava sem centroavante e ia muito bem, obrigado. O problema é que, para funcionar esse esquema, é preciso um meio-campo ágil e criativo. No time que não tem meias, não há como funcionar. Jorge Wagner, todo mundo sabe, rende muito mais na ala do que na meia. Hugo, apesar de ter melhorado muito de produção nos últimos jogos, foi terrível ontem.

Com um time sem visão de jogo e criatividade nas meias (Hernanes não funciona nessa posição, não tem jeito), fica muito difícil jogar assim -- a única jogada que funciona é a de contra-ataque. E não se pode viver de contra-ataques jogando em casa.

Depois de um abafa ilusório nos primeiros quinze minutos de jogo, em que surgiram pelo menos três chances claras de gol -- duas em escanteios --, o Botafogo adiantou sua marcação e acabou com o pouco de criação que havia no São Paulo. A equipe alvinegra passou a dominar a partida.

Foi nessas circunstâncias que Jorge Wagner (jogador que voltou a fazer boa partida, jogando mais recuado) fez um lançamento ótimo para Cazumba, que foi derrubado pelo estabanado Castillo. Era o primeiro pênalti a favor do Tricolor no campeonato. Em cobrança magistral de Rogério, 1 a 0 para nós. Àquela altura, o resultado mais justo já era o empate.

Veio o segundo tempo, e o Botafogo continuou em cima. Lúcio Flávio quase igualou o marcador numa bela jogada, tocando a bola na saída de Rogério; Alex Silva fez a cobertura e tirou de cabeça, na linha do gol.

Eis que Muricy percebeu os problemas. Primeiro, uma substituição para reorganizar a defesa: saiu Cazumba e entrou Juninho. Com isso, o São Paulo voltava a jogar no 3-5-2, com Éder ainda preso na defesa para ajudar os zagueiros. Mas não resolveu, porque a formação em campo ficou mais assemelhada a um 3-4-3, com Hugo se fixando entre os atacantes -- uma posição que dava ainda mais o meio-campo para o Botafogo.

Aí veio a substituição que deveria ter sido feita antes do início do jogo: Aloísio entrou no lugar de Éder Luis. Agora o São Paulo tinha alguém para dominar a bola e fazer o pivô, dispensando a criatividade dos meias e permitindo a ligação direta com o ataque. (É um jeito horrível de jogar, admito, mas é o que tem funcionado para o time que não tem meio-campistas à altura de outro tipo de jogo.)

O São Paulo começa a reequilibrar a partida e fazer por onde defender o resultado. Mas o futebol é caprichoso. Exatamente neste momento, aos 32 do segundo tempo, o asa-negra Carlos Alberto chuta de média distância. A bola desvia em Alex Silva e mata Rogério. O Botafogo chega ao empate.

O filme da partida já se desenhava como o do jogo contra o Ipatinga. A equipe continuava inefetiva no ataque, e o Botafogo queria a vitória. Eis que, aos 43 minutos, numa jogada que misturou determinação, espírito brigador e qualidade técnica, Jorge Wagner recebeu bola do pivozão Aloísio e acertou um belo cruzamento para Dagoberto, que de cabeça empurrou para o gol. O gol da vitória são-paulina. Injusta? Talvez. Mas o que fica é o resultado.

Com o placar, o Tricolor encostou no G-4, e apenas três pontos o separam do líder Flamengo -- que perdeu outra e parece estar em queda livre. Mas não há espaço para otimismo demasiado. Basicamente porque (1) o São Paulo continua jogando muito mal em casa e corre risco de perder mais pontos de forma besta no Morumbi; (2) Hernanes e Alex Silva vão para a Seleção olímpica e agora desfalcam o Tricolor, que terá dificuldades para se rearmar no campeonato; (3) o próximo adversário é o Internacional, que ensaia uma busca pelas primeiras colocações.

O próximo jogo, na quarta, será, sem dúvida, o mais difícil que teremos pela frente no primeiro turno. Depois de Inter, pegaremos Portuguesa (casa), Figueirense (fora), Vasco (casa), Fluminense (fora) e Goiás (casa). Acho que o objetivo terá de ser coletar 14 pontos nessa seqüência (uma vitória e dois empates fora, três vitórias em casa). Com isso, acredito que poderemos virar o turno na liderança. Mas atingir esse objetivo será tudo, menos fácil.

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