terça-feira, 1 de julho de 2008
Começa a guerra paulista por 2014
O Conselho Deliberativo da Porcaria aprovou o contrato com a WTorre para a reforma do Pocilga Itália com o objetivo de entrar na briga para ser a sede paulista da Copa de 2014 -- vaga que, provisoriamente, está ocupada pelo Morumbi.
Tenho minhas dúvidas de que o projeto é bom para eles. Talvez a única coisa que inequivocamente soe boa para eles é que a proposta é muito ruim para nós. O Pocilga Itália, nos moldes da reforma proposta, é capaz, sim, de fazer sombra ao Velho Cícero.
Senão vejamos: o estádio passará a ter capacidade para respeitáveis 42 mil pagantes (num evento Fifa) e será completamente modernizado. Já conta com infra-estrutura de metrô ao redor e está perto de grandes vias de acesso, como a Marginal Tietê e a Av. Sumaré. Tem demanda de garagem inferior à do Morumbi, justamente por ter capacidade inferior, o que torna a acomodação dos automóveis na região mais viável. Sem falar no ar europeu que ganhará o novo Pocilga Itália, capaz de impressionar os cartolas.
Não bastasse isso, a diretoria porca tem força no lobby com as "otoridades". Isso ficou claro quando eles usaram a influência do governador de São Paulo, José Serra, para fazer a segunda semifinal do Campeonato Paulista de 2008 migrar do Morumbi para o Pocilga Itália. Diz-se também que o prefeito Gilberto Kassab -- que herdou a prefeitura do mesmíssimo José Serra, é bom lembrar -- está em vias de vetar o projeto de construção de infra-estrutura ao redor do Morumbi com vistas à Copa.
Ou seja, o tabuleiro está se armando para uma grande guerra -- pública e de bastidores -- entre os clubes do Morumbi e da Pompéia pela sede paulista da Copa. Isso, se o Curíntia não renascer das cinzas com seu projeto de estádio (que ainda está sendo ruminado dentro do clube, acredite se quiser), para complicar ainda mais a questão. Não acredito. A entrada do Pocilga Itália na briga deve polarizar a disputa, antes só na mão do São Paulo, e impedir a entrada tardia de um terceiro pleito.
Antes de discutirmos as chances do Morumbi, um lembrete sobre essa obra supostamente "sem custos" para a Porcaria. A WTorre irá reformar o estádio e, por isso, ao entregá-lo novinho em folha em 2010, terá direito a administrá-lo por 30 anos -- até 2040. Para tanto, o Pocilga terá de ser fechado no ano que vem e não poderá receber jogos da Porcaria até o fim das obras.
Ou seja:
*** O Palmeiras terá de pagar aluguel para todos os seus jogos como mandante nos próximos campeonatos, até o final da reforma;
*** O clube também terá de pagar aluguel para usar o seu próprio estádio, entre 2010 e 2040, repassando parte da renda de todas as partidas para a WTorre;
*** O Palmeiras não deve ganhar muitos tostões, caso seu reformado estádio seja mesmo escolhido sede da Copa de 2014 -- o evento cairá dentro do prazo em que a WTorre está com a posse efetiva da "arena".
A idéia é que, em 2041, a Porcaria tenha um estádio moderno e totalmente seu. Um estádio "moderno" de 30 anos atrás, é claro.
Considerando a porcaria que é o Pocilga Itália hoje, talvez nem seja uma péssima idéia. Mas é fato que o maior beneficiado por essa grandiosa obra é a WTorre -- não é à toa que ela está bancando o esforço de quase R$ 300 milhões.
E os porcos aproveitam para enfatizar o fato de que não há dinheiro público na "adequação" do estádio às exigências da Fifa.
O outro lado: Morumbi
O projeto do Morumbi foi apresentado no ano passado e envolve proposta de adequação produzida pelo arquiteto Ruy Ohtake. A apresentação foi criticada por muitos, porque não tem o visual estrambólico que costumam ter as maquetes de reforma ou construção de estádios modernos. Na verdade (e como a imagem acima mostra), ele parece apenas o bom e velho Morumbi, com uma cobertura meio simplória por cima.
Defendo que essa falta de pirotecnia é uma das forças do projeto -- o Morumbi já é um estádio bonito, embora não tenha a cara de arena européia que tem ditado moda em tempos mais recentes. E também já é grande (diferentemente do Pocilga Itália). Por isso, o trabalho do estádio tem de ser mais de adequação mesmo. Melhorar as acomodações, alinhar as saídas dos vestiários, reservar espaço adequado para os jornalistas, criar salas de entrevistas mais sofisticadas e por aí vai. Essas coisas não saltam aos olhos em maquetes, mas são o que a Fifa exige.
Essas obras de adequação seriam bancadas 100% pelo São Paulo FC, sem uso de dinheiro público. Mas só o que estiver dentro da propriedade do clube do Morumbi.
Ocorre que, para atender a todas as exigências da Fifa, é preciso criar um estacionamento gigantesco nos arredores do estádio. Ruy Ohtake também produziu esse projeto, que envolve a criação de um prédio na Praça Roberto Gomes Pedrosa, que terá, sobre si, um "jardim suspenso" e um monorail -- um trenzinho que ligará o estádio à Estação Morumbi-São Paulo do metrô, ainda em construção.
Essa parte da obra caberia ao poder público realizar.
Meia dúzia de gatos pingados, organizados como uma ONG chamada Morumbi Cidadania, resolveram atacar o São Paulo FC de todas as formas, como maneira de embargar o avanço das obras. Não com muito sucesso, é verdade. Mas a apresentação do novo projeto da Porcaria pode vir bem a calhar.
Diz-se por aí que, enquanto a turma da Turiassu se escora no apoio poderoso do governador José Serra, os lobbistas do Morumbi apostam em Marta do PT para que seu intento chegue a termo. Aparentemente, Marta deu uma ajuda para que o projeto do jardim suspenso na frente do Morumbi entrasse na lista de obras do PAC. Em troca, o clube parece disposto a ajudá-la na eleição para a prefeitura de São Paulo -- que, convenientemente, tiraria Kassab, comprometido com Serra, do cargo.
Como escreveu o Luiz Carlos Quartarollo em seu blog, fazer maquete é fácil; fazer virar estádio é muito mais complicado. Esse é um ponto em favor do Morumbi, que já está lá, gigante e facilmente adaptável às necessidades da Copa. Outro ponto que joga pelo estádio são-paulino é a capacidade. Mesmo reformado, o Pocilga só poderá ter 42 mil torcedores na Copa; o Morumbi terá capacidade para 63 mil. Se é objetivo do estado de São Paulo receber o jogo de abertura do torneio -- um evento de maior porte, envolvendo a seleção brasileira --, o estádio precisa receber mais de 42 mil pessoas.
O que faz lembrar que há uma guerra também pela abertura da Copa -- desta vez entre São Paulo e Minas Gerais --, e o governador mineiro, Aécio Neves (rival de José Serra na disputa pela Presidência da República em 2010), fará de tudo para levar este evento para Belo Horizonte. Se ele conseguir isso, o Pocilga ganhará mais força na disputa.
Como se vê, é briga de cachorro grande, e o fim ainda está longe de chegar. Vai ver que é por isso que falam tanto de "arena" pra cá, "arena" pra lá. Resta ainda saber qual dos clubes será jogado aos leões...
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