Por que os times quebram com parcerias

Todo mundo já viu a história trocentas vezes. Palmeiras-Parmalat. Curíntia-Hicks Muse. Curíntia-MSI. Palmeiras-Traffic. Por que esses clubes não aprendem?

É o poder de sedução de parceiros financeiramente fortes. Chega a Traffic para as toupeiras que comandam o clube e diz:

- É o seguinte. Vamos colocar um caminhão de dinheiro e montar um esquadrão pra vocês. Aí vocês ganham os campeonatos, que é o que vocês querem, e a gente vende os jogadores que comprou, a um bom preço.

As toupeiras, que normalmente estão fragilizadas por anos de administração incompetente e jejum de títulos, embarcam numa boa nessa proposta. E o que há de errado com ela? Afinal, os times que têm parceiros conseguem contratar mais e melhor que os que não têm. Onde a coisa desanda?

A coisa desanda na estrutura do futebol brasileiro. Todo mundo está careca de saber que, para fechar as contas no ano (e poucos são os clubes que fecham as contas no ano), é preciso vender jogador pro exterior. Infelizmente, hoje, é assim que a coisa funciona. Diretorias mais antenadas estão trabalhando para aumentar a renda do clube com licenciamentos, ações de marketing etc., mas todo mundo sabe que, pra pagar os jogadores em dia o ano todo, e fechar no azul, é preciso vender pelo menos um ou dois pra Europa.

E é aí que os clubes com parceiros tropeçam. Quando chega a hora de fechar a conta, vendendo alguém para o exterior, o dinheiro acaba indo quase todo para o parceiro já endinheirado (nada mais justo, pois foi ele que investiu!), e o clube mesmo fica a ver navios.

Por isso, a despeito do sucesso parcial da Porcaria em sua nova parceria, não é difícil prever o que vai acontecer a seguir. Só que desta vez deve ser ainda pior. Além de perder a grana da venda de jogadores, o time terá ainda de amargar uma perda significativa na renda dos jogos -- uma vez que o Pocilga Itália será reformado e depois praticamente "cedido" a outra "parceira", que vai abocanhar boa parte da arrecadação nas partidas do time na nova arena, sobretudo nos primeiros anos da concessão.

Ou seja, a Porcaria abdicou de duas das principais fontes de recursos. Restam os direitos televisivos (um grande pedaço, é verdade) e as rendas do marketing (ainda tímidas naquele clube). Não é à toa que, mesmo com a parceira ainda lá, os salários dos jogadores atrasam e o rombo financeiro é significativo (está nas dezenas de milhões de reais).

Preço muito alto a se pagar para disputar campeonatos. O São Paulo, de longe a administração mais competente do estado e, quiçá, do Brasil, não cai nesse tipo de armadilha. E por isso não alterna entre momentos de campeão e lampejos de Série B. Diferentemente dos nossos rivais, que, pelas razões já explicitadas, têm o costume de freqüentar a segunda divisão do futebol e estar sempre endividados.