Futebol não é criar, é converter
SPFC 0x2 Curíntia19.abr.2009, 16h
Campeonato Paulista 2009
Público: +45 mil
Quando o Washington perdeu um gol, cara a cara com o Felipe, eu pensei comigo mesmo: Não pode perder gol feito desse jeito. Quando, poucos minutos depois, numa bela jogada de Jorge Wagner pela ponta, o Borges, livre de marcação, chutou esquisito e mandou para fora o que seria gol feito, eu falei: Não pode perder gol assim! E quando Washington, de novo na cara do gol, perdeu outro, eu gritei e chutei a cadeira: NÃO PODE PERDER GOL ASSIM, PORRA!
Este foi um resumo do primeiro tempo de ontem, entre São Paulo e Curíntia. O adversário tinha o jogo configurado do jeito que o Mano gosta: segurança na defesa, seguida por contragolpes. Pressionado pelo tempo, o Tricolor entrou para pressionar. Dominou o primeiro tempo, e as únicas jogadas efetivas do Curíntia surgiam quando eles conseguiam cavar uma faltinha mais perto da área, para levantar a bola no rebu ou chutar direto a gol. Bosco trabalhou pouco e bem.
Muricy havia preparado uma surpresa na escalação: desfalcado de Zé Luis e Arouca -- as duas opções naturais na ala --, ficou com Dagoberto, naquela função! O time entrou com Bosco, Rodrigo, Renato Silva e Miranda; Dagoberto, Jean, Hernanes, Jorge Wagner e Junior Cesar; Borges e Washington. De forma até surpreendente, Dagol rendeu bem na posição -- onde pode exercer sua melhor qualidade, o drible, sem precisar terminar a jogada com seu pior defeito, o chute.
O primeiro tempo só teve chances agudas do São Paulo. Mas futebol não se decide criando chances; se decide convertendo as ditas cujas.
Veio o segundo tempo. O Tricolor seguiu pressionando. Num cruzamento, Borges cabeceia com precisão, vence Felipe e... a bola carimba o travessão. Ali ficou claro que, independentemente da incompetência para marcar no primeiro tempo, a sorte realmente não estava do lado do melhor time. E uma das maravilhas do futebol é essa: às vezes o pior vence.
O São Paulo ficava cada vez mais vulnerável aos contragolpes e foi num lance desses que aconteceu o inevitável -- afinal, quem não faz toma. Arrancada do Curíntia, chute venenoso cara-a-cara, Bosco faz defesa espetacular, a bola ainda belisca a trave e volta, caprichosamente, para o pé de um jogador de preto. 1 a 0.
Desesperado, o Tricolor saiu ainda mais para o ataque. E aí, meu caro, o Gordo não perdoa. Arrancou, venceu Rodrigo na explosão e tocou na saída de Bosco, que nada poderia fazer. Em menos de cinco minutos, o Curíntia anulou os 55 minutos de supremacia inútil do São Paulo e liquidou a fatura.
Daí em diante, o time simplesmente desistiu. A torcida também. Eu fui embora aos 30 do segundo tempo (cerca de 15 minutos após o segundo gol do Curíntia), para não pegar confusão na saída. Decisão acertada, pois não aconteceu mais nada depois do segundo gol.
Com isso, as duas piores campanhas da primeira fase do Paulistinha vão fazer a final, enquanto as duas melhores campanhas saem de cena para concentrar forças na Libertadores.
Algumas observações pontuais:
- A despeito da supremacia Tricolor em quase dois terços da partida, a vitória do Curíntia foi absolutamente justa. Como já disse antes, futebol é converter chances, não criá-las. O São Paulo teve mais chances, mas o Curíntia converteu as duas que teve e, com justiça, avançou à final.
- O prognóstico que todo mundo dava antes de começar a temporada se provou verdadeiro (por linhas tortas, em alguns casos). Porcaria tinha um time frágil demais e não teria futuro; Curíntia viria mais forte para o Paulistinha, por não ter nenhuma competição complicada disputada simultaneamente; São Paulo, brigado com a FPF, não faria sucesso no Paulistinha.
- Muricy segue complicado no retrospecto de mata-mata. Disputou três pelo Paulistinha, perdeu todos na semifinal (São Caetano 2007, Porcaria 2008, Curíntia 2009). Certeza que, com mais esse resultado, as cornetas vão soar. O engraçado é que o Renato Gaúcho é idolatrado por ter levado o Fluminense à final da Libertadores 2008, e, mesmo tendo perdido, é visto como "bom de mata-mata". Muricy fez exatamente a mesma coisa, pelo São Paulo, na Libertadores 2006, e todo mundo acha o cara "ruim de mata-mata".
- Todo mundo vai cair em cima do dito "planejamento" do São Paulo. Vão dizer que houve erro, que perdemos pontos desnecessariamente em Medellín, que de nada adiantou porque não fomos adiante no Paulistinha... seria legal lembrar que não é porque faz planejamento que o único resultado possível é a vitória. Ou seja, é possível ter planejamento impecável e perder.
- Não quero dizer com isso que o planejamento do São Paulo tenha sido perfeito. Mas admito que, fosse eu o planejador, teria feito exatamente a mesma coisa. É até injusto julgar quem planeja a posteriori, com os resultados na mão. Eles tiveram de fazer as decisões de antemão, o que torna tudo muito mais difícil.
- Já estão exaltando por aí a atuação do Gordo no jogo de ontem. Só se foi depois que eu fui embora. O primeiro tempo dele foi medíocre, vi o cara se jogando e cavando falta no meio-campo, se embananando entre os marcadores e pouco produzindo para o time. No segundo tempo, fez o gol que matou o jogo, mas em jogada absolutamente comum. Ou vai me dizer que é a primeira vez que vocês veem um atacante (correndo de frente para o gol) ganhando na corrida de um defensor (posicionado de costas para o gol) e dando um toquinho na saída do goleiro? Menos, frangada, menos...
- Claro que é triste perder do rival. Mas a beleza do futebol está em duas coisas: 1) não ganhar sempre, pois se ganhássemos sempre acabaria perdendo a graça; 2) ganhar na imensa maioria das vezes, o que a sala de troféus do São Paulo deixa claro que é uma especialidade do clube. Bola pra frente, pessoal. Tem Libertadores na quarta.
Salvador Nogueira, 41, é jornalista de ciência e, nas horas vagas, tenta decifrar os mistérios indecifráveis do futebol.
Paulo Cesar Ceglia, 37, é publicitário e fanático profissional por esporte e tudo que tenha a ver com o Tricolor do Morumbi.
Tema:
17 comentários:
PORRA SE VAI AO JOGO FIQUE ATÉ O FINAL
Não fui, e não acho que tenha que ficar até o final. Prova de que eu estava certo é que o resultado não mudou. E sair faltando 15 minutos me permitiu ficar mais tempo com a minha família (tenho bebê pequeno e minha avó estava se recuperando de cirurgia, feita no sábado). Ficaria com a minha decisão em qualquer dia da semana.
Mas você poderia aproveitar e me contar o que foi que eu perdi de tão bom saindo 15 minutos antes.
Abraço,
Salvador
Ema Ema Ema, cada um com seus problemas.
Perdeu a chance de fazer parte de uma das maiores demonstrações de amor que a torcida são paulina fez à seu clube.
Acho isso pouco????
Sério que você vai lembrar com nostalgia deste dia no futuro? Sério mesmo? Sério que você curtiu?
Cara, não tenho sangue de barata. E não tenho muito tempo pra perder na vida. Ficar lá mais 15 minutos significava ficar mais 1h30, pelo menos. Porque com o tumulto ao redor do estádio, até se desfazer do trânsito, esse era o tempo que ia levar.
Eu demonstro pelo menos uma vez por semana meu amor pelo SPFC indo a todos os jogos que posso. Nesta temporada, de todos, só não fui contra o Guaratinguetá, porque tenho filho pra sustentar e preciso trabalhar. Em outros todos, eu fui. Fiz uma silenciosa demonstração de amor, a cada partida. Não deixei para os 15 minutos finais da segunda partida da semifinal para demonstrar meu amor. Por isso, acho que não perdi nada indo embora mais cedo.
Mas opinião é como bunda, cada um tem a sua. Eu tô sossegado.
Abraço,
Salvador
concordp plenamnete com sua analise salvador!somos melhores, isso ate eles sabem, mais acontece, a imprensa e a FPF queriam isso msm, conseguiram, mais ainda temos a libertadores pela frente e temos que continuar demonstrando nosso amor pelo nosso clube de coração, todos juntos rumo ao tetra.
Velhinho, vou a todos os jogos e já dei demonstrações de amor ao SPFC o tempo inteiro. Saí antes do final por uma questão de comodismo próprio e para evitar confusão. Não costumo fazer isso, mas como o placar não se reverteria mais, foi o melhor que fiz. Acho que a existência desse blog já é uma bela demonstração de amor incondicional ao São Paulo Futebol Clube.
Agora, eu devolvo a questão? E você, antes de falar de alguém, ficou até o final do jogo? Ou não foi e tá aqui cantando de galo só porque é mais um internauta anônimo que uma das poucas coisas que faz na vida é ofender as pessoas gratuitamente?
SÃOPAULINOS,LEIAM UM TEXTO PERFEITO DE TODA ESTA SITUAÇÃO! É do Fabio Neves.
O São Paulo mereceu o triste desfecho de uma trama mal conduzida.
O clube rasgou todos os discursos de desprezo ao “Paulistinha” ao escalar reservas na Libertadores e titulares contra o Corinthians.
Pois o time de Muricy Ramalho não ficou nem com uma coisa nem com outra.
Perdeu na Colômbia e perdeu no Morumbi.
Bem feito.
Poderia ter evitado tal vexame.
Era só priorizar o mais importante (desculpem-me a redundância, mas em alguns casos é preciso explicar o óbvio).
Com força máxima, o São Paulo dificilmente perderia em Medellín para o medíocre Independiente.
E, cansados, os preferidos de Muricy seriam poupados para o confronto diante do América de Cali, na 4ª-feira.
O jogo do domingo, embora contra um arquirrival, serviria como um amistoso de luxo para dar ritmo de jogo aos reservas.
Nada mais natural.
Sob nenhuma hipótese, nos dias atuais, um campeonato estadual pode ser mais importante do que um torneio continental.
Mas não.
Eliminar o Corinthians do Campeonato Paulista era uma questão de honra.
Para quem, afinal de contas?
Para os milhões de são-paulinos com visto para o Japão, e que esperam acompanhar a equipe em Dubai?
Ou para aqueles velhos e românticos cartolas que vivem até hoje da rivalidade regional?
Da época em que Roberto Dias e Roberto Rivellino faziam “épicos combates no campo de jogo”?
Esses confrontos certamente foram marcantes, mas fazem parte do passado.
Os tempos mudaram.
Vamos virar a página.
A massa tricolor quer mesmo a Libertadores.
Tanto que, ao final do clássico contra o Alvinegro, milhares de torcedores cantaram o hino do São Paulo.
Não houve protestos, vaias ou xingamentos.
Uma iniciativa que, para mim, é definitiva.
Os são-paulinos deram definitivamente um bico no “Paulistinha”, um torneio que perdeu a graça e faz tempo.
Para satisfazer aqueles que comparecem ao Morumbi, é preciso pensar alto.
Focar a Libertadores para chegar ao Mundial.
Se fosse possível, a semana que antecedeu o clássico deveria ser apagada do histórico do clube mais vitorioso do País.
Os comandados de Juvenal Juvêncio agiram como diretores de um clube tacanho, pequeno em tamanho, importância e visão
Essa falta de vontade que o time mostrou no segundo tempo, mostra realmente que o elenco do spfc tem que ser reformulado! Fora MURICY, este para mim, é a peça fudamental a ser trocada, é uma questão de tempo para que o SPFC seja eliminado na libertadores, coisa normal em ser tratando do MURIÇOCA!
Pois é Salvador, demorei mas cheguei... hahaha! que delícia ver tanta prepotência ser lançada no esgoto... que delícia ver a bambizada com cara de quem comeu e não gostou... que delícia termos feito vcs mudarem os planos da Libertadores, se ferrarem lá e depois cá (e duas vezes)... Que delícia substimarem o Fenômeno e o cara acabar com o jogo, sim senhor, acabar como o jogo: passe sensacional no primeiro gol e conclusão assombrosa no segundo (que por sua vez veio de passe maravilhoso do grande Cristian "Mata-Bambi"!). Gozado, o Borges e o Washington, principamente este, na hora agá, perdem os gols, vacilam. Fazer gol no coitadinho do Defensor (que grupo baba!) é mole, no Botafogo de Ribeirão, idem, mas nos jogos que contam... quanta diferença, né? Mas não com "o cara", por isso ele é "o cara", o resto é pura inveja. E "o cara" não perdoou e tb mandou dedaço duplo disfarçado de indicador, a Folha notou, só não viu que não quis!!! Outra coisa: que rídiculo notar os vazios enormes nas numeradas inferiores e superiores. Ah, são os ingressos pros sócio-torcedores, né? Ah bom!, é que eles estão se guardando pra Libertadores né mesmo? Bullshit, pura bulchetagem, vcs sempre dependeram do Timão pra lotar aquele estádio, e sem nós, os vazios já se fizeram notar.. hehe. Olha cara, a verdade: o SP tem um time muito do medíocre, uma boa defesa mas não excelente, o Borges e mais literalmente bosta nenhuma. O Dagoberto é uma das figuras mais patéticas do futebol mundial, valeu "estrategista" Murici!! Vcs não vão longe na Libertadores, e faço uma aposta aqui e agora: NÃO VÃO SEQUER SE CLASSIFICAR PARA A LIBERTADORES 2010? Quer valer? (é até uma pena, porque no ano de nosso CENTENÁRIO, seria muito gostoso acabar de novo com vcs, e na Libertadores hehe). Bom Salvador, já deu pra vc ver que não sou fraco de previsão, não precisa ser gênio da lâmpada, não, é só se apoiar na Lógica. Lá pelo final do ano voltamos a nos falar. hehehe
E um PS: que ridículo, que patético a torcida dos bambis cantando hino do time diante da derrota certa para o Timão. É incrível isso, no caso do SP, não são só os cartolas os falsos e hipócritas, a torcida tb!! Cantavam porque o Corinthians perdeu dois ou três gols feitos e podia ter saído com 5X0???! Cantavam porque viram a soberba sair pelas descargas fedorenta dos banheiros do Morumbi? Na verdade cantavam com ódio da derrota, tentando de uma forma constrangedora, com sorriso amarelo, tentar encobrir o vexame. Vão cantar tb quando tiverem a um passou - ou alguns minutos da eliminação da Libetadores? Que nojo isso, em matéria de canastrice, de vigarice vcs supreendem sempre, arghhhh..
quem é esse paulo, ridículo velho!!
parece q ganharam um mundial... foi só uma semi-final frangote, acorda!
Enfim, o cara acha que ganhou o Mundial de Clubes contra o Barcelona... rs! Deixa... enquanto eles pegam os "misto" da vida, a gente vai duelar com Boca Juniors e Cia.
Complexo de inferioridade vindo da série B é caso grave.
Atenção :
Devido aos recentes acontecimentos que deixaram as frangas espavitadas e
cacarejando glórias inexistentes, vale o lembrete :
1) Só aceitamos criticas e zoação de clubes que tenha vencido pelo menos uma
libertadores e um mundial. No mínimo.
2) As tentativas de apresentar titulos mundiais fajutos obtidos em amistosos
no maracanã ou fac simile serão recebidos com uma risada de escarnio.
Paulo Madroga, qual foi a sua reação quando o TRICOLOR enfiou 5X1 em vocês no Pacaembú? Xingou, esbravejou, mostrou nota de 1 real, brigou? Domingo nossa reação foi diferente. Simplesmente porque o nosso time tem crédito com a torcida. Afinal de contas, enquanto dávamos outra volta olímpica em virtude do Hexa, vocês estavam comemorando, ou fingindo comemorar, escondendo a vergonha de ganhar o título da série B!!!!!
Percebeu como não há nada de hipócrita no fato da torcida cantar o hino? Ou você sofre de amnésia aguda ou sua memória é desonestamente seletiva.
Faça bom proveito desse possível Paulistinha. Desculpe, mas nós queremos mesmo é a nossa quarta Librtadores. A gente pensa grande, porque somos grandes. Desculpe.
Saudações Tricolores.
6-3-3
Salvador, seu texto é muito legal e vou colocar seu blog nos meus favoritos. Mas acho que suas respostas aos comentários parecem feitas por outra pessoa... Sério, parece que no texto você escreve com tempo, edita, pensa antes e nas respostas você lê o comentário e devolve na canela...rs Não vou dizer que atender ao cliente exige paciência, pq isso é um pouco diferente, mas tente se colocar na pele de quem deixou um comentário, até pq se comentou foi pq gostou do q leu. E se for confrontado, talvez não volte. Mas não sou nenhum Golmar Mendes a querer dar lição de moral ou coisa parecida. Parabéns pelo blog e força Tricolor, ânimo e abaixo a feijoada servida antes dos últimos jogos.
Ah, cara. Não é questão de ser mais ou menos pensado, ou de dar na canela. O que acontece também é que os leitores não percebem que quem escreve é um ser humano e dão na canela sem dó. Falo isso não tanto pelo blog aqui, em que a audiência é super-qualificada e até os torcedores rivais fazem comentários pertinentes, mas pelo meu emprego de verdade, em que produzo para a internet de forma massificada e vejo como o leitor pode ser agressivo.
Independentemente de qualquer coisa, não gostei mesmo que o cara, depois de ler o meu texto, teve como único comentário me dar esporro por não ter ficado preso no Morumbi durante duas horas, só pra ver dez minutos dum jogo que já estava resolvido.
Cada um com sua atitude. A minha é ir em todos os jogos que eu consigo e escrever esse blog da forma mais equilibrada que conseguir. A de outros é ir no jogo, tomar uma piaba e ficar até o fim para cantar o hino. Tudo bem, eu não critiquei quem ficou até o fim, não preciso ler, no meu blog, que eu fiz errado de não ter ficado.
Enfim, em geral, gosto de dialogar com o pessoal aqui e trocar ideias. Mas não tenho sangue de barata. Deu na canela, toma de volta. Sempre com educação, sem palavrões e xingamentos, mas com a mesma medida de grosseria.
Abraço e obrigado, de antemão, pela compreensão.
Salvador
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