segunda-feira, 5 de maio de 2008

Torcida distorcida

A torcida do São Paulo anda sendo um dos principais assuntos dos torcedores do São Paulo. E existe uma guerra fria entre os dois maiores sites amadores do Tricolor na internet. De um lado, a mais tradicional SPNet defende com unhas e dentes os torcedores, e tem elogiado, na base do argumento da qualidade, os que têm comparecido com regularidade ao Morumbi. De outro, a arrojada Estação Tricolor mostra revolta com o baixo público e faz de tudo -- até criticar -- para que mais gente vá apoiar o time no estádio.

Quem tem razão?

Na modesta opinião deste blogueiro, ninguém. Os comentários da SPNet pró-torcida parecem vazios de conteúdo -- meramente um esforço de espelhar a posição agressiva contra-torcida da ET. E a verdade é que nenhum dos dois parou para realmente refletir sobre os fatos, em vez de maquiá-los de acordo com sua tendência.

Primeiro, o futebol é um negócio. E colocar gente no estádio é uma coisa importante para o clube, mas não justifica, do ponto de vista comercial, um esforço de colocar gente lá a qualquer custo.

Vamos usar o exemplo do Curíntia. Está enchendo o Morumbi, né? Mais de 50 mil contra o Goiás, né? Alguém aí precisa mencionar também que esse *grande sucesso* veio com o ingresso a R$ 10. Isso mesmo, dérreal. Aí é outro naipe, né? Sem contar o aluguel que o Curíntia paga ao São Paulo para usar o Morumbi, a renda bruta deles é de 50 mil vezes R$ 10, ou R$ 500 mil. O Tricolor, sem ter de pagar aluguel, coloca 30 mil no estádio, a um custo de R$ 30 o ingresso. Renda de R$ 900 mil.

Então, começa daí. Será que com ingresso a R$ 10 a gente não lotaria o Morumbi? Acho que sim. Mas o que realmente importa é que isso não seria o melhor para o clube. Entre nós e eles, acredite se quiser, nós estamos melhores.

Mas poderia ficar ainda melhor, claro. Bastaria para isso que colocássemos os mesmos 50 mil (aliás, por que estão tanto falando nesse número, hein? Efeito Curíntia?), cobrando os mesmos R$ 30. Se o clube avançar bem na Libertadores, no fim das contas vai chegar lá. Ou alguém duvida de uma semifinal com 50 mil, 60 mil pagantes?

Só que agora, nessa fase da competição, não é realista querer isso. Por quê? Dois motivos, que inocentam a torcida e a política de ingressos do clube:

1- O time não está jogando um superfutebol;
2- O São Paulo está se acostumando às decisões.

Basta voltar um pouco no tempo e lembrar da nossa "volta" à Libertadores, em 2004. Era casa cheia na primeira fase!

Hoje, cinco anos depois, o são-paulino já está (mal) acostumado com a idéia de que todo ano tem Libertadores. E que a coisa só fica boa mesmo se chegarmos às últimas fases da competição. Podemos criticar o torcedor por pensar assim? Acho que não.

Bem ou mal, hoje, ao fecharem as bilheterias, haviam sido vendidos 17.700 ingressos. A R$ 30, correspondem a R$ 531 mil de renda. Já é mais que a renda do Curíntia contra o Goiás. Ou seja, a torcida do São Paulo está gastando mais dinheiro com seu time do que a do Curíntia com o dela. Isso já não está bom?

Claro que eu quero o Morumbi lotado na quarta-feira. O meu ingresso eu já comprei. Mas não é sensato pensar que vamos lotar o estádio, na quinta oitava-de-final em cinco anos disputada pelo São Paulo. E isso não é culpa de ninguém. A política de ingressos da diretoria já andou ruim em anos passados, mas neste ano está na medida certa. E a torcida, na medida de suas posses e de sua motivação, está comparecendo.

Resumo da ópera: está tudo OK, pessoal. O copo está meio cheio -- ou meio vazio, como queiram. Mas não daria para esperar nada diferente.

E eu sinceramente queria ver o Curíntia colocar 50 mil no Morumbi com ingresso a R$ 30. Aí a gente poderia obter uma base melhor de comparação.

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