quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Ainda longe do primeiro mundo...

Hoje o jornal Folha de S.Paulo abriu seu caderno de Esporte com uma reportagem que joga água no chope da festa são-paulina: a diretoria espera preju de R$ 12 milhões ao final do ano.

E olhe que passamos boa parte do ano cobrando "loucuras" do Juvenal em contratações, que ele se recusou terminantemente a fazer, hein?

É a prova de que, mesmo com alto nível de organização, ainda estamos longe de poder agir como no primeiro mundo, em que a palavra de ordem é quase sempre "comprar" e quase nunca "vender". Entre a cruz e a espada no fim do primeiro semestre, a diretoria são-paulina decidiu não vender, e o preço será pago no balanço patrimonial do clube de 2008.

A reportagem diz, erradamente, que o clube não vendeu em 2008. Vendeu, sim. Foram ao exterior já neste ano Souza, Aloísio, Leandro, Diego Tardelli e Alex Silva. No total, mais ou menos R$ 30 milhões (pelos números que circularam na imprensa na ocasião das vendas) entraram nos cofres do clube por conta disso.

Mas, a não ser que você venda *bem* (nível Breno, que sozinho rendeu R$ 40 milhões no ano passado), a coisa só faz com que você mantenha a cabeça para fora d'água.

Não custa lembrar também que, apesar da política "sem loucuras" da velha raposa, o Tricolor contratou bem no meio do ano. Trouxe Rodrigo, Anderson e André Lima -- todos do exterior. O empréstimo pode até ter saído barato, mas é mais gente com salário bom pra pagar.

Para entender a natureza do problema, basta checar o balancete do São Paulo no ano passado e ver o que teria ocorrido se não houvesse venda de jogador.

Os gastos totais do clube em 2007, excluindo-se a dívida que foi admitida e negociada via Timemania, foram de cerca de R$ 143 milhões. As receitas, excluindo-se a venda de jogadores (que atingiu valor importante de R$ 76 milhões), foram de R$ 70 milhões.

A matemática é simples: mesmo um clube organizado como o São Paulo gasta R$ 2 para cada realzinho arrecadado. Se não vender jogadores para pagar a outra metade, não tem por onde.

E como solucionar?

A curto prazo, por mais que não gostemos da solução, Juvenal conhece o caminho das pedras: reforçar a base e vender um Breno por temporada.

A longo prazo, seguir a rota dos clubes europeus: ampliar renda vinda de subprodutos do clube, como marketing, licenciamento, patrocínio e cotas de TV. O produto principal -- futebol -- tem que servir de chamariz, com títulos, mas precisa estar cercado de serviços assessórios, que gerem dinheiro, para se justificar.

Daí o esforço hercúleo do São Paulo em quebrar os tabus nacionais contra o marketing esportivo, lançando redes de lojas do clube em shoppings, abrindo bar no estádio e investindo em linhas de produtos.

Ocorre que não é uma coisa que vira do dia para a noite. O Morumbi, que era deficitário, hoje dá lucro. A Reebok está encantada com a recém-descoberta capacidade do São Paulo de "vender" camisas e outros produtos, com o sucesso da megaloja no estádio e das primeiras lojas da SAO Store. É um bom começo. Mas só um começo.

Terá de ser muito aprofundado nos próximos anos, para que o Tricolor realmente possa equilibrar suas finanças e começar a comprar mais que vender, como fazem os europeus.

Pelo menos, no São Paulo, já se vê a rota certa para isso. Nos outros clubes, parecem estar tateando às escuras. Em alguns, fugindo disso -- o Atlético Mineiro acaba de fechar (!!) seu departamento de marketing.

Há razão para esperança, mas ainda não foi em 2008 que o São Paulo se tornou um clube europeu no Brasil.

8 comentários:

Anônimo disse...

Fora Juvenal!

Paulo Cesar Ceglia disse...

Hehehe... não concodo com o Fora Juvenal! Se formos comparar com os outros clubes brasileiros, damos um banho e estamos numa curva de ascensão. O quadro é de atenção, pero no mucho.

Abs!

Paulo

Anônimo disse...

Achei seu comentário muito bom, mas vou levantar uma polêmica: Se o Juvenal tivesse investido mais (em bons jogadores), não teríamos a chance de termos ido mais longe na Libertadores, consquentemente arrecadado mais em cotas e prêmios, e uma melhor performance no Brasileiro que atrairia mais torcida em nossos jogos e não a média pífia que tivemos nesse ano?

Anônimo disse...

Saudações. Sempre leio os posts aqui, mas nunca tenho muito tempo para comentar, esse então será meu primeiro post por aqui (oh que grande coisa hein?).
O Glorioso Tricolor, como você bem disse, só não vendeu jogadores por um preço muito elevado. Ano que vem com certeza Miranda e Hernanes vão embora e creio que por um preço interessante. A abertura das lojas não só vai consolidar o glorioso no "mundo logistico" como vai deixar os clubes loucos para fazerem o mesmo o mais rápido possível, mas os lucros com isso vão ser mais bem vistos a longo prazo. Falei alguma besteira?
Abraços

Salvador Nogueira disse...

Régis,

é uma provocação interessante. Talvez acontecesse como você sugere. Mas que garantias?

Eu já acho absurdo que o São Paulo acuse como "prejuízos imprevistos" a eliminação precoce da Libertadores.

Mesmo que o São Paulo tivesse um supertime, não haveria garantia alguma de que venceríamos o torneio! Mata-mata tem dessas coisas... nem sempre o melhor vence. Ou você acha que a LDU tinha um time mais caro ou mais estrelado que o Fluminense?

Eis o dilema: o São Paulo poderia ter se reforçado e vencido. Ou poderia ter se reforçado e perdido. Não dá para apostar nisso. Se fosse um campeonato de pontos corridos, outra história...

De certo modo, acho que o Juvenal acertou com a política "sem loucuras" -- até porque tinha muito time rival inflacionando o mercado, tendo de pagar os tubos para jogadores encararem uma Série B...

Acho também que acertou, em optar por amargar algum preju, mas priorizar o time e não vender Hernanes ou Miranda no meio do ano.

Resumo da ópera: a vida para os clubes brasileiros é um eterno xeque-mate... venda ou morra. O São Paulo tentou subverter essa lógica neste ano (até pela crise dos mercados), e com isso vai levar prejuízo.

Mas não havia realmente uma decisão correta... você pode apostar, ou não.

Aliás, há quem diga que o São Paulo contratou pra Libertadores, com o Adriano... que foi nosso artilheiro no torneio, diga-se de passagem.

Abraços,
Salvador

Salvador Nogueira disse...

Gustavo,

observação perfeita! (E parabéns pelo primeiro comentário -- finalmente as pessoas resolveram dar seus pitacos por aqui!)

Com o tempo, as coisas tendem a melhorar, e a Copa 2014 terá um papel fundamental nisso. E o São Paulo está firme e forte nesta rota segura rumo ao futuro.

Mas isso não muda o fato de que, em 2008, vamos morrer com umas dívidas na praça... (Que, como você bem mencionou, devem ser pagas com algum jogador -- Miranda e Hernanes são os principais candidatos -- num futuro próximo!)

Abraço,
Salvador

Dr. Daniel Pegorini Alessi disse...

eh o mundo dos negociossss,,,,
perde-se hj,, para lucrar bem mais amanha!!!!!!

Mário Júnior disse...

Acho que dessas vendas que o clube fez, apenas Aloísio e Alex Silva contabilizaram no balanço de 2008 (as demais ficaram no de 2007, mesmo sendo vendidos neste ano). E os dois nem renderam grandes fortunas.
Mas é um prejuízo que nem deixa tanta preocupação. Hernanes está prontinho para uma boa venda - embora eu torça pra que ele fique para a disputa da Libertadores. E, logo mais, Jean e Aislan também deverão estar.