Analisando o caso Oscar

Como era de se esperar, a cada minuto aparecem novas informações sobre o caso Oscar. E, como também era de se esperar, em sua maioria elas não dão vantagem ao jogador.

Não é verdadeira, por exemplo, a acusação de que o novo contrato firmado entre ele e o São Paulo era vantajoso só para o clube. Oscar recebeu R$ 120 mil de luvas para firmar o compromisso (dinheiro que, curiosamente, ele terminou de receber recentemente), mais um plano de aumento progressivo de seu salário. Pelos dois anos adicionais que o novo contrato lhe dava, esse aumento era mais expressivo que nos três primeiros, que já constavam do contrato original. O aumento, para que se tenha uma ideia, no último ano, mais que dobrava o salário original (R$ 16 mil em 2012, contra R$ 7,5 mil em 2007).

Outra argumentação do advogado de Oscar diz que o clube lhe deve dinheiro, pois os reajustes deveriam ser no mês de setembro, não dezembro (uma quantia que representa aproximadamente R$ 7 mil, mais a diferença no FGTS). A Justiça pode até entender que este é o caso, mas isso não justifica a quebra de contrato; seria o caso de apenas pagar os valores cobrados e seguir em frente.

Oscar vem dando declarações de que sua emancipação não lhe foi benéfica (o que não faz sentido, uma vez que ela lhe rendeu R$ 120 mil, mais dois anos de trabalho garantido e aumentos salariais cada vez mais expressivos) e de que o São Paulo teria manipulado sua mãe, se aproveitando do fato de que seu pai era falecido. O clube deve apresentar uma série de fatos, mostrando o suporte que deu ao jogador, tanto para alavancar sua carreira quanto para propiciar boas condições de vida para ele e para a família.

Outro ponto levantado foi o de que Oscar estava sendo sub-aproveitado no grupo. Isso também será facilmente rechaçado pelo clube, que mostrará que, dos meninos que subiram junto com ele da base, ele foi o que mais jogou, chegando a participar de 13 partidas no ano de 2009, inclusive jogos decisivos na reta final do Brasileirão.

Sobre a acusação mais recente de que Marco Aurélio Cunha teria ameaçado o jogador, num recado deixado na caixa postal telefônica de Oscar, também não deve pegar. O tom de Marco Aurélio, em áudio já divulgado ao quatro ventos, foi conciliador, enfatizando o carinho pelo menino e o fato de que tudo poderia ser resolvido.

A única coisa que vai sobrar é a afirmação de que, depois dessa confusão, o jogador não teria mais "clima" para seguir no clube. Isso, no momento, é a coisa mais forte que o estafe de Oscar tem em seu favor. Convenhamos, não é muito. Já cansamos de ver litígios virarem abraços no futebol. O caso mais recente de sucesso é o de Petkovic, atual campeão brasileiro pelo Flamengo, que só assinou com o clube justamente para resolver uma dívida. Há muitos como esse na história do futebol.

Por tudo isso, acho que o São Paulo está em boa posição para reverter a liminar que deu a Oscar o direito de procurar outro emprego. Mas, claro, leve-se em conta que esta é uma avaliação de leigo, sem respaldo jurídico, e que a Justiça do Trabalho tem por principal objetivo proteger os direitos do trabalhador, não os do empregador (até porque o mais comum é o trabalhador ser prejudicado).

Sabe Deus o que se passa na cabeça da juiza que deu a liminar a Oscar. A única coisa que sabemos é que ela deu a liminar sem ouvir a outra parte. Quando o São Paulo apresentar seus argumentos (que, acredito eu, não devem fugir muito do que eu digo acima), a coisa pode mudar radicalmente.

Da parte da torcida, só temos de advogar pela compreensão. O menino fez uma bobagem monumental, e está dando as declarações que está dando porque está sendo instruído por terceiros. A intenção é mesmo a de enervar a torcida, para suportar a tese do advogado dele de que "não há mais clima" para permanecer no São Paulo. Não podemos cair nessa armadilha jurídica. Temos todos de torcer para que Oscar coloque sua cabeça no lugar e, quando ele retornar ao São Paulo, recebê-lo de braços abertos. É duro, eu sei. Ele está agredindo, com palavras e ações, o que mais amamos. Mas se realmente amamos o São Paulo Futebol Clube, temos de ajudá-lo, e não podemos dar armas ao inimigo insidioso e oculto que se aproveita de um jovem humilde e promissor para dobrar todas as normas da ética.