terça-feira, 11 de março de 2008

Os riscos de uma revolução

Eu acho que entendi o que o Muricy quer fazer. Não, sério, acho que entendi mesmo. O Muricy tá achando que futebol é basquete.

Pense comigo: o grau de variação tática no basquete é muito melhor. Na hora de defender, o posicionamento é um; para atacar, é outro; se você vai bater um lateral no meio da quadra, pode trocar os jogadores em campo para fazer uma jogada ensaiada diferente; se quiser um chute de três, pode colocar três alas e tirar um pivô, para complicar o adversário; se quiser força no garrafão, pode colocar até dois pivôs em quadra. Enfim, as variações são infinitas, e o Muricy confessamente gosta disso.

Até hoje, nenhum técnico de futebol (até onde eu tenha conhecimento) já pensou nesse esporte como um análogo do basquete. Até porque existem diferenças óbvias: o tamanho do campo de jogo e as restrições fortes a substituições são as mais significativas.

Mas isso não impediu Muricy, que teve uma idéia (sem ironias) genial: é possível obter grau similar de variação tática, se os vários jogadores em campo puderem fazer várias funções diferentes na mesma partida. Isso permite que o time vá, num piscar de olhos, do 3-5-2 para o 4-4-2 ou para o 3-4-1-2 ou até para um 4-3-3. Pode atordoar os adversários com tamanha variação tática. Mas pode também atordoar o próprio time, ao tentar se adaptar a um conceito que parece mais afeito a um outro esporte do que àquele que se tenta jogar no momento.

Muricy já mostrou seu perfil de técnico de basquete no ano passado, com seu foco extremo na marcação. Dava quase para ouvir, durante os ataques do adversário, a torcida gritando "Defense! Defense! Defense!", tamanho o espírito combativo (mas leal) de sua equipe. A mentalidade se escondia por trás da frase: "O futebol é muito simples. Quando você tem a bola, você ataca. Quando você não tem a bola, você parte para a marcação." Parece um truísmo (e é mesmo), mas é o tipo de raciocínio que, de novo, se encaixa perfeitamente no frenético ritmo do basquete.

O treinador do São Paulo parecia ter acertado a mão no segundo semestre do ano passado, quando criou um time eficiente e vencedor (embora quase nunca com um futebol vistoso ou belo). Mas as coisas não andaram bem até agora em 2008, o que faz a torcida supor que será preciso alguma mágica para que tudo volte aos eixos antes de uma tragédia na Libertadores (que, convenhamos, é o que conta).

A filosofia de Muricy é muito interessante e pode ser uma forma revolucionária de se pensar taticamente o futebol. Mas o risco de toda revolução é o fracasso. Não que eu seja um fã da mediocridade, do "mais do mesmo", mas talvez o salto que nosso treinador quer dar seja grande demais -- afinal de contas, basquete e futebol NÃO SÃO iguais.

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