Morumbi sob fogo cruzado

Andei meio quieto por esses dias, só acompanhando as notícias da Copa do Mundo de 2014. Impressionante o que tem de reportagem detonando o Morumbi. Das duas, pelo menos uma: ou o projeto do São Paulo é inviável e o estádio não tem condições de abrigar jogos de nível Fifa, ou existe um lobby fortíssimo para passar essa impressão.

A segunda assertiva, a gente sabe de longa data que é verdadeira. Tenho um amigo enfronhado nas entranhas do Clube dos 13 que afirma, desde sempre, que o Morumbi não receberia jogos de Copa do Mundo e que todo mundo na cartolagem repete esse mantra, da FPF à CBF. A colocação do Morumbi como estádio-sede foi fruto de um lobby fortíssimo do presidente Juvenal Juvêncio, mas que, segundo esses interlocutores, não terá como se sustentar até 2014.

Até aí, tudo bem, sabemos que há muitos interessados na construção de um novo estádio em São Paulo, de preferência às pressas e com dinheiro público, como foi feito no Rio com o Engenhão (que ganhou aqui o carinhoso apelido de Roubalhão). Esse rol de interessados vai desde os times pobres sem estádio da capital até os governantes, interessados em fazer gastança superfaturada ou a levar a abertura do Mundial para seu estado, passando por moradores do bairro que têm raiva do estádio pelo tumulto natural que ele gera ao seu redor.

No clube do Morumbi, a obsessão é receber a abertura, não importa como. Mas será que dá?

O jornal "O Globo" de hoje diz que análise da Fifa daria ao Morumbi capacidade de apenas 46 mil lugares -- insuficiente para a abertura do torneio.

Será possível que um estádio com capacidade original de 150 mil pessoas pode se acanhar a ponto de receber apenas 46 mil? Sinceramente, não creio nessa análise. Nem o São Paulo, pelo menos publicamente.

Agora, se todo o mal fosse esse... mas não é. Dizem que o projeto original de Ruy Ohtake não satisfaz a várias exigências do caderno de encargos da Fifa. Já teria sido modificado para cumprir os requerimentos, mas há muitas dúvidas de que seja realizável -- ainda mais como quer o São Paulo, sem fechar o estádio.

O triste é que o lobby e as incertezas afastam os investidores, que seriam os responsáveis por ajudar o São Paulo a executar esse plano. E aí a coisa pode se tornar uma profecia que se auto-realiza: todo mundo diz que não dá pé, as empresas desistem de investir, e aí não dá pé mesmo.

Será que vão conseguir? É uma queda de braço que vai, no máximo, até 2011. Depois disso, ficaria difícil erguer do zero um novo estádio para substituir o Morumbi. Mas, até lá, ainda veremos muito "disse-que-disse" sobre qual será o palco da Copa 2014 em São Paulo.