sábado, 3 de novembro de 2007

A polêmica das bolinhas



Agora que a única graça do campeonato para nós é ver os outros se matando para ir para a Libertadores ou não cair para a segundona, o único grande tema que restou ao São Paulo até o fim do ano é a polêmica da taça de bolinhas.

Pois é. O Flamengo, suposto pentacampeão em 1992 (com o título de 1987 não reconhecido pela CBF), resolveu brigar *agora* pela taça, que seria dada ao primeiro pentacampeão ou a quem vencesse três vezes seguida o campeonato. O engraçado é que eles não pediram a taça em 1993, ou 1994. Ou 1995. Ou 1996. Ou 1997. Ou 1998. Ou 1999. Ou 2000. Ou 2001. Ou 2002. Ou 2003. Ou 2004. Ou 2005. Ou 2006. Só agora, quando surgiu mais um pentacampeão, eles resolveram chiar. Qual é a lógica disso?

Os rubro-negros são rápidos no gatilho: "E daí que só resolvemos pedir a taça agora? É fato que nós somos os primeiros pentacampeões nacionais."

Ah, tá. Legal. São mesmo. Qualquer manual de futebol diz que o Flamengo tem cinco títulos nacionais. Mas em qualquer manual de futebol também aparece ali um asterisco -- o título de 1987 não é reconhecido pela CBF, que diz que o campeão daquele ano foi o Sport. Rolos da cartolagem.

E, assim como qualquer manual de futebol, o São Paulo também sempre reconheceu -- e segue reconhecendo -- o Flamengo como legítimo campeão de 1987.

Ocorre que o São Paulo não está no ramo de conferir taças a clubes. O negócio do Tricolor é disputar taças, dadas por outras instituições -- federações e confederações de futebol. No caso do Brasileirão, quem manda é a CBF. E é justamente a CBF que não reconhece o título do Flamengo de 1987. O que faz de nós, para a CBF, os primeiros pentacampeões -- dignos merecedores do troféu de bolinhas.

Não cabe ao São Paulo recusar troféu, nem repassar troféu. E a razão é óbvia: há um conflito de interesses. Enquanto clube, o Tricolor tem por objetivo *conquistar* títulos. Como pode ele *conceder* um título? Não pode. Não é sua função. Não é sua obrigação. E se o Flamengo espera receber de nós algum troféu, acho melhor esperar sentado.

Juca Kfouri costumava dizer, antes do fim deste campeonato, que o São Paulo se tornaria o primeiro pentacampeão brasileiro sem asterisco. Verdade. O Flamengo é penta também? É. Mas com asterisco. E foi o asterisco que lhe custou a taça. Não adianta chorar agora, duas décadas depois daquele rolo da Copa União. Assim como está consolidado o pentacampeonato do Flamengo, as condições dessa conquista também estão -- e elas não incluem o direito à taça de bolinhas.

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